sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Acção conjunta dos bancos centrais não acalma bolsas

O plano concertado dos principais bancos centrais mundiais - injecção de liquidez em dólares dos dois lados do Atlântico -, para travar a crise dos mercados financeiros e dar um impulso no crescimento económico global, teve um impacto positivo muito curto.Um dia depois do anúncio, as principais bolsas mundiais registaram quedas elevadas - perto dos dois por cento na Europa - e as taxas de juro na zona euro registaram descidas muito ténues, quando se esperava quedas mais expressivas.A aversão dos investidores à tomada de risco foi evidente ontem nas bolsas asiáticas, europeias e norte--americanas. As preocupações em relação à manutenção da crise dos mercados financeiros, que está a afectar o crescimento das maiores economias mundiais, com destaque para a norte-americana, voltaram a ganhar relevância. No mercado monetário, na zona euro, a desconfiança também esteve presente, mas entre os maiores bancos comerciais, uma vez que o custo dos empréstimos entre si manteve-se elevado, ao nível mais alto dos últimos sete anos.A Euribor a três meses fixou-se ontem nos 4,948 por cento, um pouquinho menos do que os 4,953 por cento de quarta-feira. A Euribor a seis meses ficou nos 4,898 por cento, contra os 4,906 por cento da sessão anterior. E a Euribor a 12 meses nos 4,862 por cento, cerca de 0,005 pontos percentuais abaixo do valor verificado anteontem. As taxas do mercado monetário continuam longe do índice de referência do Banco Central Europeu, que se encontra nos 4,0 por cento. A distância das taxas Euribor face ao preço do dinheiro fixado pela autoridade monetária acentuou-se com a crise do crédito de alto risco nos Estados Unidos. Desde então, o indexante tem mantido uma tendência altista que agrava os custos dos empréstimos que o utilizam, como é o caso da maioria dos contratos de crédito à habitação em Portugal.A política monetária do BCE, que recentemente manteve a taxa de juro de referência inalterada e integra agora o grupo de bancos centrais que vai injectar liquidez no mercado, não tem sido suficiente para travar a subida da Euribor. E uma das razões prende-se com a constante ameaça de nova subida da taxa directora, como forma de travar a inflação, que tem tido uma evolução em alta, em boa parte por causa do preço do petróleo.Essa mensagem ficou patente na declaração após a última reunião para decidir sobre a política monetária e foi reafirmada no editorial do boletim mensal de Dezembro, publicado ontem, onde é defendido que o BCE, "actuando com firmeza e atempadamente", assegurará que os efeitos secundários e os riscos para a estabilidade dos preços não se materializem. A maiores bolsas mundiais registaram ontem quedas muito elevadas, com os maiores contributos a serem dados pelas empresas financeiras. As primeiras bolsas a fechar foram as asiáticas e o maior recuo a acontecer na bolsa chinesa, a deslizar 3,57 por cento (Taipé). Em Hong Kong, o índice Hang Seng perdeu 2,72 por cento, a Bolsa de Xangai desvalorizou 2,7 por cento e, em Tóquio, o Nikkei caiu 2,48 por cento. Este deslize influenciou o comportamento das praças europeias, com a Bolsa de Londres a liderar as quedas - 2,98 por cento (FTSE 100). Seguiu-se o principal índice da Bolsa de Paris, o CAC 40, a perder 2,65 por cento. Madrid recuou 2,27 por cento (Ibex-35), e o índice que agrupa as 50 maiores companhias europeias cotadas, o Euro Stoxx 50, caiu 2,21 por cento. Com quedas acentuadas, mas interiores a dois por cento, fecharam os índices de referência das bolsas alemã (-1,83 por cento), de Lisboa (-1,73 por cento) e da Holanda (-1,61 por cento). Em Lisboa, a queda mais significativa aconteceu no BCP, a perder mais de cinco por cento.As bolsas norte-americanas abriram em queda e, a meio da sessão, os dois principais índices perdiam 1,26 por cento (Nasdaq 100) e 0,52 por cento (Dow Jones). O presidente do Northern Rock, o banco inglês que entrou em crise com os problemas no mercado do crédito de alto risco, vai deixar a instituição, foi ontem anunciado. Será substituído por um administrador que já tinha o encargo de encontrar soluções para a instituição, Andy Kuipers.O Northern Rock tem sobrevivido à custa de injecções de liquidez providenciadas pelo Banco de Inglaterra. O mais recente balanço aponta para um total superior a 35 mil milhões de euros. No mercado, comenta-se a hipótese de o grupo Virgin entrar para o capital do banco.

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